Quem, em determinada discussão, não perdeu o fio da razão em seus argumentos e se propôs a insultos e elevação no tom da voz, como forma de vencer a discussão, que atire a primeira pedra. Ou palavra.
Trabalhar a forma de argumentação é difícil, afinal somos humanos e, como tais, em parte movidos pelos sentimentos: amor, ódio, decepção, dentre outros.
Um dos maiores nomes da filosofia imaginava que o discurso poderia ser construído de partes, para melhor compreensão. Para Aristóteles, “Ao fazer um discurso é necessário estudar três pontos: primeiro, o meio de produzir persuasão; em segundo lugar, a linguagem; em terceiro lugar, o arranjo das várias partes do discurso.” Embora ele estivesse falando de um discurso, coisa que em sua época era longo e, consequentemente, demorado; o mesmo pode ser aplicado a uma pequena discussão.
Quando iniciamos uma discussão sobre determinado ponto de vista, devemos lembrar que a formação de ideias e pensamentos manifestam-se diferentes em cada um. Podem surgir determinadas situações em que nenhuma das partes está disposta a ouvir o outro lado e, por isso, achar que só o seu ponto de vista deve ser ouvido.
Lembrando Evelyn Beatrice Hall que, de forma sutil e no mínimo sintomática, dissera: “Posso não concordar com uma só palavra do que disseres, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-la”; vamos imaginar que não é necessário que se concorde, mas que se tenha a predisposição em ouvir a outra parte; visto que está em uma discussão e manifestou seu pensamento. Ou seja, não é só falar: é também, e principalmente, ouvir.
O ouvir é um dos maiores passos na argumentação, a melhor forma de se ter uma salutar discussão. O escritor uruguaio Eduardo Galeano visitou o Brasil durante a 2ª Bienal do Livro e da Leitura, que aconteceu em Brasília, no mês de abril do corrente ano e proferiu a frase: “Nos dias de hoje, tento dizer o máximo possível com menos palavras, pois descobri que o silêncio é uma eficiente forma de argumentação.” E não deixa de ser.
Saber ouvir o outro é uma forma de mostrar que está disposto a uma visão diferente da que está a defender.
A melhor forma de lapidarmos a argumentação é fazer uma crítica de si mesmo. A leitura ajuda, mas não é suficiente. Podemos encontrar pessoas altamente instruídas que não têm a mínima predisposição para ouvir. Melhorar os argumentos é, sem dúvida, um gigantesco passo para o entendimento e coexistência pacífica; mesmo que ainda falte muito para isso, a exemplo de pensarmos a ética na contemporaneidade.
Dito isso de outra forma, a linguagem para ser entendida deve ser exercitada, escrita ou oralmente. Uma forma de fazermos é ampliarmos nosso conhecimento acerca de fatos ocorridos no passado, comparando com o presente e não apenas sendo passivo de repetição, mas também de crítica.
Assim, poderemos ter mais uma forma de argumentação e uma mais proveitosa discussão.
Portanto, lembremos um grande escritor que nos legou uma citação que bem resume as diversas formas de argumentarmos e melhorarmos os argumentos: “A retórica é como sua filha querida, a hidra de Lerna: no lugar de cada cabeça decepada, nasce-lhe uma nova”. (Eça de Queiroz, in Notas Contemporâneas (1909).