Questões de filosofia para enem – Parte 1

Para iniciarmos nossa análise sobre as questões de filosofia para o enem, começaremos pelos anos mais recentes. Apresentarei as questões e direi o motivo da alternativa está certa, apresentando dicas de como analisar o autor em específico.

Questões enem

QUESTÕES DE FILOSOFIA COMENTADAS

QUESTÃO 54


Eu poderia concluir que a raiva é um pensamento, que estar com raiva é pensar que alguém é detestável, e que esse pensamento, como todos os outros — assim como Descartes o mostrou —, não poderia residir em nenhum fragmento de matéria. A raiva seria, portanto, espírito. Porém, quando me volto para minha própria experiência da raiva, devo confessar que ela não estava fora do meu
corpo, mas inexplicavelmente nele. MERLEAU-PONTY, M. Quinta conversa: o homem visto de fora.
São Paulo: Martins Fontes, 1948 (adaptado).


No que se refere ao problema do corpo, a filosofia cartesiana apresenta-se como contraponto ao entendimento expresso no texto por:

  • A) apresentar uma visão dualista.
  • B) confirmar uma tese naturalista.
  • C) demonstrar uma premissa realista.
  • D) sustentar um argumento idealista.
  • E) defender uma posição intencionalista.

Como dito no enunciado, apresenta-se como um CONTRAPONTO, sendo que Descartes era racionalista, e no texto Ponty faz essa dualidade entre corpo e espírito. Dessa forma, em Descartes não teria essa dualidade.

Dica: Merleau-Ponty e Freud tem uma relação interessante, sobre discussões fenomenológicas. Embora o inconsciente de Freud tenha interessado Ponty, contudo ele dá outras conotações que posteriomente se tornam grande parte de seus estudos.

GABARITO: A

QUESTÃO 55

A diversão é o prolongamento do trabalho sob o capitalismo tardio. Ela é procurada por quem quer escapar ao processo de trabalho mecanizado para se pôr de novo em condições de enfrentá-lo. Mas, ao mesmo tempo, a mecanização atingiu um tal poderio sobre a pessoa em seu lazer e sobre a sua felicidade, ela determina tão profundamente a fabricação das mercadorias destinadas à diversão que essa pessoa não pode mais perceber outra coisa senão as cópias que reproduzem o próprio processo de trabalho. ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

No texto, o tempo livre é concebido como

  • A) consumo de produtos culturais elaborados no mesmo sistema produtivo do capitalismo.
  • B) forma de realizar as diversas potencialidades da natureza humana.
  • C) alternativa para equilibrar tensões psicológicas do dia a dia.
  • D) promoção da satisfação de necessidades artificiais.
  • E) mecanismo de organização do ócio e do prazer.

Para Adorno, a diversão é tida como produto de algo chamado Indústria Cultural, assim, ele nos ensina que ela já não é feita não para proporcionar lazer e benefícios ao trabalhador, em momentos de descanso, mas para alimentar ainda mais o capitalismo.

DICA: Sempre que ver o termo Indústria Cultural, fique atento a esses autores e também à Escola de Frankfurt.

GABARITO: A

QUESTÃO 57


Quem se mete pelo caminho do pedido de perdão deve estar pronto a escutar uma palavra de recusa. Entrar na atmosfera do perdão é aceitar medir-se com a possibilidade sempre aberta do imperdoável. Perdão pedido não é perdão a que se tem direito [devido]. É com o preço destas reservas que a grandeza do perdão se manifesta. RICOEUR, P. O perdão pode curar. Disponível em: www.lusosofia.net. Acesso em: 14 out. 2019.


A reflexão sobre o perdão apresentada no texto encontra fundamento na(s):

  • A) rejeição particular amparada pelo desejo de poder.
  • B) decisão subjetiva determinada pela vontade divina.
  • C) liberdade mitigada pela predestinação do espírito.
  • D) escolhas humanas definidas pelo conhecimento empírico.
  • E) relações interpessoais mediadas pela autonomia dos indivíduos.

Embora essa questão verse exclusivamente sobre interpretação de texto, vale lembrarmos, além disso, que Paul Ricoeur é um filósofo muito peculiar, alinhado com a temática da linguagem e discurso. Ricoeur também se destaca no âmbito da Fenomenologia e Hermenêutica.

GABARITO : E

QUESTÃO 79


TEXTO I

Gerineldo dorme porque já está conformado com o seu mundo. Porque já sabe tudo o que lhe pode acontecer após haver submetido todos os objetos que o rodeiam a um minucioso inventário de possibilidades. Seu apartamento, mais que um apartamento, é uma teoria de sorte e de azar.
Melhor que ninguém, Gerineldo conhece o coeficiente da dilatação de suas janelas e mantém marcado no termômetro, com uma linha vermelha, o ponto em que se quebrarão os vidros, despedaçados em estilhaços de morte. Sabe que os arquitetos e os engenheiros já previram tudo, menos o que nunca já aconteceu. MÁRQUEZ, G. G. O pessimista. In: Textos do Caribe. Rio de Janeiro: Record, 1981.


TEXTO II


A situação é o sujeito inteiro (ele não é nada a não ser a sua situação) e é também a coisa inteira (nunca há mais nada senão as coisas). É o sujeito a elucidar as coisas pela sua própria superação, se assim quisermos; ou são as coisas a reenviar ao sujeito a imagem dele. É a total facticidade, a contingência absoluta do mundo, do meu nascimento, do meu lugar, do meu passado, dos meus redores — e é a minha liberdade sem limites que faz com que haja para mim uma facticidade. SARTRE, J.-P. O ser e o nada: ensaio de ontologia fenomenológica. Petrópolis: Vozes, 1997 (adaptado).


A postura determinista adotada pelo personagem Gerineldo contrasta com a ideia existencialista contida
no pensamento filosófico de Sartre porque

  • A) evidencia a manifestação do inconsciente.
  • B) nega a possibilidade de transcendência.
  • C) contraria o conhecimento difuso.
  • D) sustenta a fugacidade da vida.
  • E) refuta a evolução biológica.

Sartre discute muito a contrução do Ego em seus primeiros textos, sendo que ele nega a construção de um EU no inconsciente. Dessa forma, para o filósofo a transcendência era “o conjunto das condições necessárias para a existência de uma consciência empírica” SARTRE, Jean-Paul. A transcendência do Ego. Lisboa: Colibri, 1994.

DICA: Sartre é muito associado à liberdade, a princípio é sempre condicionando ela como um fardo. Se você é totalmente livre, não há condicionamento de terceiros em culpa ou esperança.

GABARITO: B

Certamente você percebeu que o formato do post é simples e direto ao ponto. Ao longo dos próximos post vamos incrementando novas formas de dicas, dessa forma, abrangendo ainda mais conhceimento.

No próximo post faremos análise das questões mais recentes, no ano de 2024.

Como dito anteriormente, segue texto extra sobre um filósofo. Dessa vez, sobre Sartre.

Texto extra