Por que o indutivismo não resolve o problema da demarcação?

A ciência é concebida, de certa forma, como inabalável. Isso por um caráter de empirismo empregado na ciência e tido como “certeza absoluta”. Ou seja, a experiência é tida como verdade absoluta.

A indução é a principal base para se construir tal conceito. A partir de coisas particulares repetidamente observadas, essas coisas são inferidas em níveis universais. É algo como fazer um julgamento de uniformidade da natureza, que ela seguira a mesma ação que outrora desempenhou.

Indutivismo Hume

Karl Popper afirma que as teorias se submetem à falseabilidade e que a intensificação da observação empírica aumenta sua suscetibilidade a esse processo. Segundo Popper, a indução representa um grande problema quando se tenta usá-la como estrutura de conhecimento. Enquanto muitos enxergam nela uma lógica segura para se construir saberes, ele enxerga um sistema falho, carente de fundamentos que ofereçam certezas evidentes.

Podemos verificar e confirmar melhor essa dúvida quanto à validade do método na seguinte citação: “O problema da indução também pode ser apresentado como a indagação acerca da validade ou verdade de enunciados universais que encontrem experiência, tais como as hipóteses e os sistemas teóricos das ciências empíricas.” (POPPER, Karl, 2000, p. 28).

Popper nos mostra com clareza as várias dificuldades que a lógica indutiva apresenta.

 “Meu ponto de vista é o de que as várias dificuldades da Lógica Indutiva aqui esboçadas são intransponíveis. O mesmo acontece, temo eu, com as dificuldades inerentes à doutrina, tão em curso hoje em dia, segundo a qual a inferência indutiva, embora não “estritamente válida” pode atingir algum grau de “confiabilidade” ou probabilidade. “Poper, 2000, pág. 30).

O método indutivo

Indutivismo e ciência
Método indutivo

O filósofo não exclui a lógica indutiva do raciocínio ou da ciência, mas destaca que essa lógica não oferece certeza. Ele propõe que se deduzam previsões de caráter empírico com base em uma hipótese apresentada, e que se confrontem essas previsões com as observações por meio da experimentação.

Esse posicionamento levou à tentativa de demarcar os limites da lógica indutiva. Em outras palavras, Popper levantou a seguinte questão:: “Com rejeitar o método de indução poder-se-ia dizer-privo da ciência empírica daquilo que constitui, aparentemente, sua característica mais importante; isto quer dizer que afasto as barreiras a separar a ciência da especulação metafísica. “(POPER, Karl. 2000, pag. 34)

Com isso, o filósofo estabeleceu essa demarcação como critério para separar ciência e metafísica. Ele rejeitou a solução de Kant, que considerava a indução como algo a priori, e recusou tal descrição.

Ou seja, dito a explicação anterior de outro modo; não existe qualquer grau de certeza na lógica indutiva, o cientista deve observar isso. Mas tais critérios de certeza e demarcação seriam algo de longe, muito difícil. Ou talvez até impossível de se colocar na temática em questão. O mais próximo que podemos é contestar as verdades da ciência com base na lógica indutiva, e nos certificarmos que uma área não tente invadir o limites da outra.